terça-feira, 11 de agosto de 2015



SEM ABRIGO

 

Só nos meus poemas encontro morada
Abrigo diferente não me foi cedido;
Ao próprio lar nunca me vi atraído,
E a tenda plo vento brutal foi levada.

Só nos meus poemas encontro morada.
E, se tal refúgio consigo nos matos,
Em estepes, cidades ou sítios ingratos,
Miséria nenhuma me afectará nada.

Ainda demora, mas há-de chegar
O tempo em que a força me abandonará
E em vão doces ditos irá requerer
Com que eu construía, e em que o chão irá
Guardar-me e eu me inclino pra esse lugar
Onde há uma cova no escuro a romper
.


J. Slauerhoff 
(1898-1936)
Trad. de Fernando Venâcio
In "Rosa do Mundo 2001 Poemas Para o Futuro"

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