sábado, 22 de agosto de 2015

NEVOEIRO

Quem poderá saber que estranha bruma
Brotou caladamente em minha volta
Pra que eu perdesse as horas uma a uma
sem um gesto, sem um grito, sem revolta.

Quem poderá saber que estranhos laços
que sabor de morte lento e amargo
sugaram todo o sangue dos meus braços -
o sangue que era sede do mar largo

Quem poderá saber em que respostas
Se quebrou o subir do meu pedido
Para que eu bebesse imagens decompostas
à luz dum pôr de sol enlouquecido



Sophia Mello Breyner Andresen
(1919-2004)

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