sábado, 22 de agosto de 2015

 BÓIAM LEVES, DESATENTOS



Bóiam leves, desatentos,
Meus pensamentos de mágoa
Como, no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas.

Bóiam como folhas mortas
À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.

Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve.mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.


Fernando Pessoa
(1888-1935)

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