sábado, 31 de outubro de 2009

Poema


BIOGRAFIA:



Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-me na luz, no mar, no vento.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Jacques Brel "Les bourgeois"

Mensagem.

(Foto Fel de Cão)
Não me posso render, haja o que houver.
Salvar a vida pouco me adianta.
O pendão que levanta
A minha decidida teimosia,
Transcende a noite e o dia
De uma breve e terrena duração.
Luto por todos e também por mim,
Mas assim:
Desprendido da própria perdição.


É o espírito da terra que eu defendo,
Numa cega constância
De namorado:
Esta causa perdida em cada instância,
E sempre a transitar de tempo e de julgado.
(Miguel Torga)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A 27 de Outubro de 1949 "Egas Moniz é Nobel"


O médico, professor e investigador português António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz (1874-1955), partilha o Prémio Nobel da Medicina com Walter Hess (1881-1973), pela "sua descoberta do valor terapêutico da leucotomia em certas psicoses".

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mal-Entendidos.


É o novo livro do Dr. Nuno Lobo Antunes (em 2008 publicou "Sinto Muito"). Trata-se de um livro muito interessante, de fácil leitura, que recomendo a todos em geral mas, muito particularmente, aos pais, professores e profissionais de saúde. Verão que vão aprender muito e ver cair por terra alguns mitos. Um livro a não perder, tal como o "Sinto Muito".

Guerra e fome.

Porque de Francisco Fanhais.

domingo, 25 de outubro de 2009

Poema.

(Foto Fel de Cão)
Soneto Presente
"Não me digam mais nada senão morro
aqui neste lugar dentro de mim
a terra de onde venho é onde moro
o lugar de que sou é estar aqui.

Não me digam mais nada senão falo
e eu não posso dizer eu estou de pé.
De pé como um poeta ou um cavalo
de pé como quem deve estar quem é.

Aqui ninguém me diz quando me vendo
a não ser os que eu amo os que eu entendo
os que podem ser tanto como eu.

Aqui ninguém me põe a pata em cima
porque é de baixo que me vem acima
a força do lugar que for o meu"

(José Carlos Ary dos Santos)

Pôr do Sol. Figueira da Foz 24 de Outubro de 2009.

Pablo Picasso nasceu a 25 de Outubro de 1881.


(guernica)

sábado, 24 de outubro de 2009

José Afonso canta Fernando Pessoa.

Uma Paixão com 50 anos.


Os livros são ,há 50 anos ,uma das minhas paixões (desde quando aprendi a ler). Hoje passei por uma livraria que frequento há muitos anos ( a livraria da Casa Havanesa na Figueira da Foz). Uma visita ,demorada, pelos livros...só de os tocar, ler, olhar já fico diferente... De lá saio com os últimos de Saramago,António Lobo Antunes, Nuno Lobo Antunes, Mário Zambujal e as revistas "LER" de Setembro e Outubro e ainda (este por vício) o "Expresso". Uma manhã em cheio. Antes peixe fresco na praça e depois almoço na varanda do apartamento da Figueira (com um bom vinho). Sem ironia, sem ofensa (lembrando um camarada, já falecido, da Marinha grande, que Tinha um irmão chamado Lenine e um filho chamado Wladimir...sabe-se-lá porquê!)... e que costumava dizer "Há vidas piores que esta... mas não valem nada!". Bom fim de semana, e boas leituras, para todos. Por mim tenho "leitura" até às compras de Natal.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

José

Sérgio

Fausto

Saúde 24 / Gripe.


Tenho, sempre tive e sempre terei, como médico como cidadão e como doente, uma profunda admiração e respeito pela classe de enfermagem. São dos melhores profissionais de saúde em Portugal. São competentes, dedicados e com grande capacidade de trabalho mesmo em condições adversas. Não posso é concordar com as declarações à T.S.F. de profissionais da linha Saúde 24 sobre a vacina para a gripe AH1N1... Estão na primeira linha no apoio aos cidadãos em casos de gripe...Podem não querer levar a vacina mas não podem , nem devem, omitir opiniões pessoais, não fundamentadas, sobre as indicações da O.M.S. Só lançam confusão e não ajudam em nada. No dia em que a O.M.S. confirma 5000 mortos por gripe A não foi bom ouvir esta notícia. Vamos todos ter calma e juízo...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Água e pedra.

(Foto Fel de Cão)

Poema.


Praia do Esquecimento

Fujo da sombra; cerro os olhos: não há nada.
A minha vida nem consente
rumor de gente
na praia desolada.

Apenas decisão de esquecimento:
mas só neste momento eu a descubro
como a um fruto rubro
de que, sem já sabê-lo, me sustento.

E do Sol amarelo que há no céu
somente sei que me queimou a pele.
Juro: nem dei por ele
quando nasceu.

David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"

Porque os seus crimes ficaram impunes.


A PIDE foi criada a 22 de Outubro de 1946. A minha homenagem a todas as suas vítimas. Muitos ainda cá estão para testemunhar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Pensamento.


" Conhecer alguém que nos entende, apesar da distância, sem que seja necessário expressar o que sentimos. Eis o que faz da Terra um jardim"

Goethe (1794-1832)

Para lembrar livros da minha infância...


Regresso ao Lar

Ai, há quantos anos que eu parti chorando
deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas manso, muito manso...
tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!

Guerra Junqueiro, in 'Os Simples'

terça-feira, 20 de outubro de 2009


Meu Camarada e Amigo

Revejo tudo e redigo
meu camarada e amigo.
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo e redigo
meu camarada e amigo

As canções que trago prenhas
de ternura pelos outros
saem das minhas entranhas
como um rebanho de potros.
Tudo vai roendo a erva
daninha que me entrelaça:
canção não pode ser serva
homem não pode ser caça
e a poesia tem de ser
como um cavalo que passa.

É por dentro desta selva
desta raiva deste grito
desta toada que vem
dos pulmões do infinito
que em todos vejo ninguém
revejo tudo e redigo:
Meu camarada e amigo.

Sei bem as mós que moendo
pouco a pouco trituraram
os ossos que estão doendo
àqueles que não falaram.

Calculo até os moinhos
puxados a ódio e sal
que a par dos monstros marinhos
vão movendo Portugal
— mas um poeta só fala
por sofrimento total!

Por isso calo e sobejo
eu que só tenho o que fiz
dando tudo mas à toa:
Amigos no Alentejo
alguns que estão em Paris
muitos que são de Lisboa.
Aonde me não revejo
é que eu sofro o meu país.

Ary dos Santos, in 'Resumo'

José Viana em " Samba de uma nota só "

Danças Ocultas.

domingo, 18 de outubro de 2009


Viver sempre também cansa.

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformaram.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
«Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.»

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...



José Gomes Ferreira

Poema.

(Foto Fel de Cão)
Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mário de Sá-Carneiro

(1890-1916)

sábado, 17 de outubro de 2009

Jornada de José Gomes Ferreira e Fernando Lopes Graça

Esta coisa dos "Blogues"

Estava eu a ler " A arte, o artista e a sociedade" de Álvaro Cunhal para fazer um "post" quando encontro " A jornada" de José Gomes Ferreira e Fernando Lopes Graça... aqui fica para todos. Jornada

Não fiques para trás oh companheiro
É de aço esta fúria que nos leva
Para não te perderes no nevoeiro
Segue os nossos corações na treva.

Refrão
Vozes ao alto, vozes ao alto
Unidos como os dedos da mão
Havemos de chegar ao fim da estrada
Ao sol desta canção.

Aqueles que se percam no caminho
Que importa? Chegarão no nosso brado
Porque nenhum de nós anda sózinho
E até mortos vão a nosso lado.


Refrão

Azeitona.


Uma volta pela aldeia e fiquei com a noção que vamos ter azeite bom este ano. Mas com uma população envelhecida, sem ninguém a querer trabalhar no campo, com a mão de obra que não existe, como vai ser? É ver os nossos, velhos, agricultores verem apodrecer nas oliveiras, que amam, aquilo porque sempre lutaram...o azeite de cada um. Puta de vida esta.

Abertura da água-pé.


Em dia de abertura da nova água pé, com petisco a condizer, esta paisagem continua a deslumbrar-me...apesar de tantas horas a olhar para ela.Esta calma, esta luz continuam a doer cá dentro...mas com uma calma que não dá para perceber.

Mais velha que a Républica...mas lúcida.

Cem anos de vida.


Aqui a minha amiga, utente do Lar da Ribeira do Fárrio, nasceu a 12 de Outubro de 1909. A Srª Maria Emília Marques continua com boa saúde...e não gosta de médicos por perto e foge, a sete pés, dos medicamentos. Festejou, na maior, o seu 1º centenário.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Manuel da Fonseca nasceu a 15 de Outubro de 1911.


Ansiedade

Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.

Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Poema.

(Foto Fel de Cão)
Agora Mesmo

Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também

Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele

Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se

A Terra gira e nós também A Terra morre e nós
Também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen

Manuel Alegre, in "Chegar Aqui"

Martin Luther King. A 14 de Outubro de 1964 torna-se a pessoa mais jovem a receber o Prémio Nobel da Paz

terça-feira, 13 de outubro de 2009

As Autárquicas.


A Drª Manuela Ferreira Leite, e o PSD, dizem que ganharam as eleições autárquicas. Quem sou eu para negar isso... A "figura" é Pirro (318-272 aC) e a frase é de Pirro " Mais uma vitória como esta e estou perdido". Dirão que já foi há mais de dois mil anos...e os tempos são outros...Ou será como dizia Álvaro Cunhal..."olhe que não! olhe que não!

domingo, 11 de outubro de 2009

Poema.

(Foto Fel de Cão "Amigos")
Antes que Seja Tarde

Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao Deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

IMPRESSÃO DIGITAL.

(Foto Fel de Cão)
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê Moinhos? São moinhos
Vê Gigantes? São gigantes.

António Gedeão

sábado, 10 de outubro de 2009

Kseniya Siminova . Tema " A invasão da Alemanha contra a Rússia em 1941"

José Mário Branco com Remendos e Codeas...Já lá vão tantos anos...

Bonita Canção!!!! Corações de Atum com Zé Gorila.

Já tinha pensado nisto? A curva do sucesso.

Para todas as idades...Em dia de refletir...

Orson Welles morreu a 10 de Outubro de 1985.

Giuseppe Verdi nasceu a 10 de Outubro de1813.

Cavaco sempre teve razão.


Na "Gente" página do Jornal Expresso vem esta foto que tudo confirma. Se não há houve "Escutas em Belém"... Quando não sei.

Feios, Porcos e Maus.

Feios, Porcos e Maus é um filme de Ettore Scola, realizado em 1976, vencedor do prémio para melhor realização no Festival de Cannes. Durante a campanha eleitoral pensei neste interessante filme. Tem muito a ver com as campanhas eleitorais...mas não é ai que eu queria chegar... Queria falar do título do filme e da campanha eleitoral... FEIOS...foram os ataques que, alguns, candidatos fizeram a adversários políticos onde tudo valia... PORCOS...foram abatidos aos milhares...não houve terra nem lugar em que não fosse para o espeto um dos pobres animais. PORCOS a maioria dos candidatos que tudo sujavam com sacos, papéis, cartazes, aventais todo o lixo que se possa ,e até não possa, imaginar. MAUS... a grande maioria dos candidatos porque colocam os seus interesses pessoais em primeiro lugar do que os seus deveres como políticos...isto para não ir mais longe. Feito o desabafo...votem bem e vejam o filme que se vão divertir.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Poema.


Comecei como aprendiz
a mestre não chegarei
não vou acabar no fim
mas sim onde comecei
porque o meu melhor latim
é querer o que não há
e saber o que não sei

(Vasco Costa Marques)

Prémio Nobel da Paz.


Fiquei surpreendido, mas não admirado, de terem dado o Nobel da Paz a Barak Obama...Se já o tinham dado a rapaziada como Henry Kissinger e Simon Peres.... Quem ficou contente foi o cão (Portuga) do Obama. Pensava eu que não se brincava com coisas sérias...estava, redondamente, enganado!
(Na foto o cão do Obama, em fato de Gala, a festejar o Nobel).

Che Guevara foi assassinado, em La Higuera- Bolívia, a 9 de Outubro de 1967.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Edgar Allan Poe morreu a 7 de Outubro de 1849.






Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.

Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.

Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demónio, ante meus olhos.




Edgar Allan Poe.

Notícias do Bloqueio


Aproveito a tua neutralidade,
o teu rosto oval, a tua beleza clara,
para enviar notícias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos.

Tu lhes dirás do coração o que sofremos
os dias que embranquecem os cabelos…
tu lhes dirás a comoção e as palavras
que prendemos – contrabando – aos teus cabelos.

Tu lhes dirás o nosso ódio construído,
sustentando a defesa à nossa volta
– único acolchoado para a noite
florescida de fome e de tristezas.

Tua neutralidade passará
por sobre a barreira alfandegária
e a tua mala levará fotografias,
um mapa, duas cartas, uma lágrima…

Dirás como trabalhamos em silêncio,
como comemos silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento.


Vai pois e noticia como um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.

Vai pois e conta nos jornais diários
ou escreve com ácido nas paredes
o que viste, o que sabes, o que eu disse
entre dois bombardeamentos já esperados.

Mas diz-lhes que se mantém indevassável
o segredo das torres que nos erguem,
e suspensa delas uma flor em lume
grita o seu nome incandescente e puro.

Diz-lhes que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e enquanto a água e os víveres escasseiam
aumenta a raiva

e a esperança reproduz-se.

Egito Gonçalves

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

(Foto Fel de Cão)
A PALAVRA IMPOSSÍVEL






Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim,
Para eu ignorar dentro de mim
A única palavra sem disfarce -
A Palavra que nunca se profere.



Adolfo Casais Monteiro

O Que me Dói.

(Foto Fel de Cão)
O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...
São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.

Fernando Pessoa, 5-9-1933

domingo, 4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa Morreu hoje.

Mercedes Sosa Morreu hoje.

Zorba "O Grego" um filme de 1964.

Poema.

(Foto Fel de Cão)
A Perfeição

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fracção de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exactidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exactidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

(Clarice Lispecter)

Rembrandt morreu a 4 de Outubro de 1669.


(A lição de anatomia do Dr.Tulp)

sábado, 3 de outubro de 2009

Poema.


Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas


(Bertold Brecht)

Para Ver.

Poema

ESQUERDIREITA
À esquerda da minoria da direita a maioria
do centro espia a minoria
da maioria de esquerda
pronta a somar-se a ela
para a minimizar
numa centrista maioria
mas a esquerda esquerda não deixa.
Está à espreita
de uma direita, a extrema,
que objectivamente é aliada
da extrema-esquerda.

Entretanto
extra-parlamentar (quase)
o Poder Popular
vai-se reactivar, se…

Das cúpulas (pfff!) nem vale a pena
falar, que hão-de
pular!

Quanto à maioria da esquerda
ficará ― se ficar ― para outro poema.

(Alexandre O'Neill)

Poema.

QUEIXAS DE UM UTENTE





Pago os meus impostos, separo
o lixo, já não vejo televisão
há cinco meses, todos os dias
rezo pelo menos duas horas
com um livro nos joelhos,
nunca falho uma visita à família,
utilizo sempre os transportes
públicos, raramente me esqueço
de deixar água fresca no prato
do gato, tento ser correcto
com os meus vizinhos e não cuspo
na sombra dos outros.


Já não me lembro se o médico
me disse ser esta receita a indicada
para salvar o mundo ou apenas
ser feliz. Seja como for,
não estou a ver resultado nenhum.



José Miguel Silva

Poema.

OS MELHORES ANOS DA MINHA VIDA



Os melhores anos da minha vida
passaram comigo ausente, passaram
numa corrente subterrânea.
Não me apercebi de nada, distraído
com a queda das folhas,
a densa mistura de pão e desordem.

Estava tudo em aberto, mas eu não sabia
senão de pequenas querelas,
e tímidos passos à toa, sempre à espera
de não ter futuro. Sentado, como um pobre,
sobre o poço de petróleo,
eu media com tesouras as semanas,
misturava-me com livros, ansiava
pelo dia em que deixasse de sangrar.

Os melhores anos da minha vida troquei-os
por isto.

(José Manuel Silva)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Aranjuez Mon Amour por Nana Mouskouri.

Eles estão por aí. CUIDADO

O ANALFABETO POLÍTICO

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.

(Bertold Brecht)

Rio de Janeiro com os jogos olímpicos de 2016.

Fotos Fel de Cão.

Fotos Fel de Cão.

Fotos Fel de Cão

Fotos Fel de Cão.

Pensamento.

"A desobediência civil é um direito intrínseco do cidadão. Não ouse renunciar, se não quer deixar de ser homem. A desobediência civil nunca é seguida pela anarquia. Só a desobediência criminal com a força. Reprimir a desobediência civil é tentar encarcerar a consciência."
(Mahatma Gandhi)

Mahatma Gandhi nasceu a 2 de Outubro de 1869.


(Foto de 1931)