segunda-feira, 10 de agosto de 2015

 
 SOBERBA
 
 
Pedi-lhe um alto canto a suavizar
meu viver rude, monótono, sombrio
Ela deu-me a cotovia de uma rima encantada...
              Eu queria mil!

Pedi-lhe um exemplar do ritmo seguro
com que eu pudesse dirigir meu afã.
Deu-me um regato, um murmúrio nocturno...
              Eu queria um mar.

Pedi-lhe uma fogueira de ardor jamais extinto,
para que a meus sonhos concedesse calor.
E deu-me um pirilampo de minúsculo brilho...
              Eu queria um sol!

Que vã é a vida, que inútil meu impulso,
e o azul abril e o verdor do éden...
Oh tão sórdido guia da viagem nocturna:
              Eu quero morrer!
 
 
Porfírio Barba-Jacob
(1883-1942)
Trad. de José Bento
In "Rosa do Mundo 2001 Poemas Para o Futuro" 

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