segunda-feira, 20 de junho de 2011

Juan Ramón Jiménez


VOZ IMENSA



Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...
Dir-se-ia que os dois conversam com o ocaso.

É de ouro e silêncio. A tarde é de cristais.
Embala as frescas árvores uma pureza errante.
E, para além de tudo, sonha-se um rio límpido
que, separando pérolas, foge rumo ao infinito.

Solidão! Solidão! Tudo é silente e claro.
Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...

O amor vive longe. Sereno, indiferente,
o coração é livre. Nem triste, nem alegre.
Distraem-no brisas, cores, toques, perfumes…
Nada como num lago de sentimento imune.

Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...
Dir-se-ia que o eterno está aqui, ao nosso lado.

Juan Ramón Jiménez
(1881-19589)
(Prémio Nobel de 1956)
In "Antologia Poética"
Trad. de José Bento.

Sem comentários:

Enviar um comentário