sábado, 25 de junho de 2011

Armindo Rodrigues


DESPENTEIA OS CABELOS


Despenteia os cabelos e sorri-me,
minha alta e constante namorada.
Embora talvez isso seja um crime
enquanto o mundo mau se não redime,
agora quero não pensar mais nada.
Despenteia os cabelos e sorri-me,
minha alta e constante namorada.

Seja a vida serena ou seja inquieta,
sempre na vida cabe um grande amor.
Eu sou o que o teu sonho em mim projecta.
Tu és o aroma com que se completa
o meu sonho impossível de ser flor.
Seja a vida serena ou seja inquieta,
sempre na vida cabe um grande amor.

Despenteia os cabelos e aproxima
a tua face límpida da minha.
Um mesmo pensamento nos anima.
Movem-nos iguais ódios e igual estima.
O meu desejo o teu o adivinha.
Despenteia os cabelos e aproxima
a tua face límpida da minha.

Só tu és para mim consolação
de tanto desalento que sofri.
Cada mão tua em cada minha mão
torne em luz toda a minha confusão
e toda a luz em só te ver a ti.
Só tu és para mim consolação
de tanto desalento que sofri.

Despenteia os cabelos e sorri-me,
minha alta e constante namorada.
Embora talvez isso seja um crime
enquanto o mundo mau se não redime,
agora quero não pensar mais nada.
Despenteia os cabelos e sorri-me,
minha alta e constante namorada.

Armindo Rodrigues
(1904-1993)
In "Cerejas-Poemas de amor de autores Portugueses contemporâneos-
(Gonçalo Salgado e Maria João Fernandes)

Sem comentários:

Enviar um comentário