RECUSO-ME
Recuso-me a ficar amolecido
Tragicamente cilindrado
E muito antes de lutar ficar vencido
E muito antes de morrer violado
Recuso-me ao silencio e á mordaça
Serei independente, livre e exacto
A verdade é uma força que ultrapassa
A própria dimensão em que combato
Recuso-me a servir a violência
Embora a minha voz nada valha
Mas que fique ao menos na consciência
De que tentei romper esta muralha
Recuso-me a ter medo e a estiolar
Na concha dos poetas sem mensagem
Que me levem o corpo e a coragem
Mas que me fique esta voz para cantar
João Apolinário
(1922-1988)
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