terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Fernando Pessoa


RUBAIYAT


O fim do longo, inútil dia ensombra.
A mesma sp'rança que não se deu se escombra,
Prolixa... A vida é um mendigo bêbado
Que estende a mão à sua própria sombra.


Dormimos o universo. A extensa massa
Da confusão das cousas nos enlaça
Sonhos; e a ébria confluência humana
Vazia ecoa-se de raça em raça.


Ao gozo segue a dor, e o gozo a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque há dor.
Mas de um e de outro vinho nada resta.

Fernando Pessoa (1888-1935)
"Ficções do Interlúdio"

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