quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Eugénio de Andrade


MANHÃ DE JUNHO


Talvez, talvez sejam os últimos
dias. Se for assim, são um esplendor.
Apesar dos aviões da Nato despejarem
bombas e bombas no Kosovo, a perfeição
mora neste muro branco
onde o escarlate
da flor da buganvília sobe ao encontro
da luz fresca da manhã de junho.
A beleza (não há outra palavra
para dizê-lo), a beleza desta manhã
é terrível: persiste, domina -
apesar dos aviões, mesmo com
bombas a cair e crianças a morrer.

Eugénio de Andrade
(1923-2005)

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