sábado, 4 de dezembro de 2010

Alberto de Lacerda


A REDE


O que eu sustento, o que eu não invento, o que eu prometo,
o que as palavras e as praias perpetuam
na alegria verde do amor,
devolve-me as estradas e o princípio,
o alegre princípio!


A fauna dilacerada refugiada no verso,
o silêncio de pedra das horas perdidas,
deixam outra vez aquela distância
onde encontro o palácio dos meus sete anos
e as portas monumentais ultrapassadas
só pela infância mortal duma beleza mortal
como Londres à tarde nos finais de Novembro.


O que sustento, o que eu descubro e não invento,
o que eu repito exaltadíssimo,
lembra às vezes a rede potente
que se desfaz, só na aparência,
para os que esperam duma forma errada,
para os que nunca se sentaram no meio da estrada,
para os que nunca sorriem por acaso,
e não se destroem num ritual preciso
igual às vozes puras da meia noite do mar.


O que eu sustento, o que eu não invento, o que eu prometo
é a alegria límpida das lisas
planícies de certas visões insuportáveis de luz.
O que eu prometo é o que eu vi, testemunha e nada mais.
Eu canto o que existiu e existirá, glória suprema
Dos deuses e não minha.

Alberto de Lacerda
Londres,11-01-1954.

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