domingo, 18 de outubro de 2015

PEREGRINO


Regressar? Regresse o que sentir
Após longos anos e uma longa viagem,
Cansaço do caminho e a cobiça
De sua terra, sua casa, seus amigos,
Do amor que, ao regressar, o espere, fiel.

Mas tu? Voltar? Não penses regressar,
Mas continuar livre, para a frente,
Disponível para sempre, moço ou velho,
Sem filho que te busque, como a Ulisses,
Sem Ítaca à espera e sem Penélope.

Continua, continua e não regresses,
Fiel até ao fim do caminho e de tua vida,
Não sintas a falta de um destino mais fácil,
Teus pés sobre a terra nunca antes pisada,
Teus olhos enfrentando o jamais visto.

Luis Cernuda
(1902 – 1963)
In "Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea"
Trad. de José Bento

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