sábado, 18 de setembro de 2010

José Gomes Ferreira


POEMA


(O Eugénio de Andrade espera-me num café. Atravesso as ruas do Porto - a cidade onde nasci - com os punhos cerrados de dor.)


Não nasci por acaso nestas pedras
mas para aprender dureza,
lume excedido,
coragem de mãos lúcidas.

Aqui no avesso da construção dos tempos
a palavra liberdade
é menos secreta.

Anda nos olhos da rua,
pega lanças aos gestos,
tira punhais das lágrimas,
conclui as manhãs.

E principalmente
não cheira a museu azedo
ou musgo embalado
pela chuva da boca dos mortos.

Começa nos cabelos das crianças
para me sentir mais nascido nestas pedras.
Porto
- cidade de luz de granito.

Tristeza de luz viril
com punhados de grito.


José Gomes Ferreira
(Porto,1900-Lisboa,1985)

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