segunda-feira, 13 de setembro de 2010

César Vallejo


PEDRA NEGRA SOBRE UMA PEDRA BRANCA

Morrerei em Paris com aguaceiros,
num dia do qual já tenho a lembrança.
Morrerei em Paris – daqui não saio –
numa quinta-feira, como hoje, de outono.

Quinta-feira será, pois hoje, quinta-feira,
em que estes versos proso, dei os úmeros
à pouca sorte, e nunca como hoje
voltei, com todo o meu caminho, a ver-me só.

Morreu César Vallejo, espancavam-no
todos sem que lhes fizesse nada;
davam-lhe forte com um pau e forte

com uma corda também; são testemunhos
as quintas-feiras e os ossos úmeros,
a solidão, os caminhos, a chuva...

César Vallejo
(Tradução de José Bento)

Sem comentários:

Enviar um comentário