sábado, 10 de abril de 2010

Rafael Alberti


BALADA PARA OS POETAS ANDALUZES DE HOJE


Que cantam os poetas andaluzes de agora?
Que olham os poetas andaluzes de agora?
Que sentem os poetas andaluzes de agora?

Cantam com voz de homem, - mas onde estão os homens?
Com olhos de homem olham, - mas onde estão os homens?
Com peito de homem sentem, - mas onde estão os homens?

Cantam e quando cantam parece que estão sós.
Olham e quando olham parece que estão sós.
Sentem e quando sentem parece que estão sós.

Será que a Andaluzia está já sem ninguém?
Nos montes andaluzes não haverá ninguém?
Nos mares e campos andaluzes não haverá ninguém?

Não haverá já quem responda à voz do poeta?
Quem olhe o coração sem muros do poeta?
Tantas coisas morreram que não há mais do que o poeta?

Cantai alto. Ouvireis que ouvem mais ouvidos.
Olhai alto. Vereis que olham outros olhos.
Pulsai alto. Sabereis que palpita um outro sangue.

Não é mais fundo o poeta em seu subsolo escuro
encerrado. Seu canto ascende mais profundo
quando, aberto, no ar, é de todos os homens.

Rafael Alberti
(16/12/1902-28/10/1999)

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