sexta-feira, 2 de abril de 2010

Fernando Assis Pacheco

PRESO POLÍTICO

1

Quiseram pôr-me inteiro numa ficha.
O dia e a noite são iguais por dentro.
Não há papel que conte a minha vida
mais que estes versos de punhal à cinta.
A barba cresce,e cresce a voz armada
descendo pelos muros tão tranquila;
tão tranquila que já não desespera
de ser apenas voz,não uma guerra.

Quiseram pôr-me inteiro numa ficha:
Não há papel que conte a minha vida.
Mais que estes versos,mão estendida
por sobre muros só de medo e pedra.

2

Quando saíres amigo,não me esqueças.
Fico à espera da tua novidade.
Olha bem que farás da liberdade:
quando saíres amigo não me esqueças.

Quero mais fazimento que promessas.
São de prata os enganos da cidade
com que outros sujeitam a vontade.
Não me esqueças amigo,não me esqueças.

1966
(Lote de Salvador,1991)

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