sábado, 7 de junho de 2014

A MORTE BELA


Que me vais magoar, morte?
Não me faz doer a vida?
Porque hei-de ser mais ousado
para o viver exterior
que para o fundo morrer?

A terra, que é mais que o ar?
Porque nos há-de asfixiar,
porque nos há-de cegar?
porque nos há-de esmagar,
porque nos há-de calar?

Porque morrer há-de ser
o que chamamos morrer,
e viver só o viver,
o que calamos viver?
Porque o morrer verdadeiro
(o que calamos morrer)
não há-de ser doce e suave
como o viver verdadeiro
(o que chamamos viver?)

Juan Ramón Jimenez
(1881-1958)
Prémio Nobel 1956
Trad. de José Bento
In "Antologia Poética)

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