SONÂMBULO - XIV
Dói-me a boca de silêncio
e vou gritar!
- nesta noite de lua mole
a dobrar-se nos telhados
inertes de bafio...
Dói-me a boca de silêncio
e vou gritar!
- Atirar para a ferrugem do vento
da noite desmantelada
um desafio de acordar o mundo
nas janelas de súbito acesas
- com milhões de vozes
esvaídas num clamor para além do sufocar das pedras!
Dói-me a boca de silêncio
e vou gritar!
Gritar,ouviram?
Gritar esta alegria de não sentir ainda terra na boca!
Gritar esta Labareda,enfim fora dos olhos!
José Gomes Ferreira
(1900-1985)
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