POVO
Povo
Eh povo meu
na margem dos grandes oceanos
vibram as plagas do céu
em gritos humanos
São as vozes dos homens do mar
São os braços na terra erguidos
É o rítmo da vida a vibrar
em todos os sentidos
És tu irmão desta aventura
lançado na fúria de amanhã
A combustão da conjuntura
A parte podre de outra sã
És tu que eu vejo pelas ruas
em todos os lugares da vida
de faces brancas e mãos nuas
de tanta coisa apetecida
És tu o escravo desta melopeia
a pedra do suporte em que se basta
o edifício social da teia
em que tudo se enreda funde e gasta
És tu a grande porta ritmada
em gonzos de infinito e de veludo
Dum lado não és nada
do outro és tudo
Povo
Eh povo meu
na margem dos grandes oceanos
vibram as plagas do céu
em gritos humanos
João Apolinário
(1924-1988)
In "O Guardador de Automóveis"
1ª edição (29 de Dezembro de 1956)
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