domingo, 8 de abril de 2012

João Apolinário


POVO


Povo
Eh povo meu
na margem dos grandes oceanos
vibram as plagas do céu
em gritos humanos

São as vozes dos homens do mar
São os braços na terra erguidos
É o rítmo da vida a vibrar
em todos os sentidos

És tu irmão desta aventura
lançado na fúria de amanhã
A combustão da conjuntura
A parte podre de outra sã

És tu que eu vejo pelas ruas
em todos os lugares da vida
de faces brancas e mãos nuas
de tanta coisa apetecida

És tu o escravo desta melopeia
a pedra do suporte em que se basta
o edifício social da teia
em que tudo se enreda funde e gasta

És tu a grande porta ritmada
em gonzos de infinito e de veludo
Dum lado não és nada
do outro és tudo

Povo
Eh povo meu
na margem dos grandes oceanos
vibram as plagas do céu
em gritos humanos

João Apolinário
(1924-1988)
In "O Guardador de Automóveis"
1ª edição (29 de Dezembro de 1956)

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