segunda-feira, 30 de maio de 2011

Daniel Filipe


DORME MENINO

Dorme Menino dorme
teu sonho quieto lúdico
enquanto longe estoura
a bomba no atol

Que outra coisa Menino
poderemos fazer
ante o inominado
desconhecido crime
que de entre as chamas nasce
no silêncio da noite?

Que palavra inventada
que rubro gládio pode
definir o temor
do começo do mundo?

Que estranho abjecto ritmo
em cogumelo alastra
sobre o teu sono puro
Menino sobre a esperança?

(Um tigre humano vem
a cada esquina oculto
no rumor da manhã
saciar-se de sangue)

Daniel Filipe
(1925-1964)
In "Recado para a amiga distante"(1956)

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