terça-feira, 24 de maio de 2011

Blas de Otero


A PONTO DE CAIR


Nada é tão necessário ao homem como um pouco de mar
e uma orla de esperança para além da morte,
é tudo o que preciso e talvez um par de asas
abertas no capítulo primeiro da carne

Não sei como dizê-lo, com que cara
trocar-me por um anjo dos anteriores à terra
quebraram-se-me os braços de tanto lhes dar corda,
dizei-me o que farei agora, que horas são, se ainda há tempo,
é preciso que suba a mudar-me, que me arrependa sem perder uma lágrima,
uma apenas, uma lágrima orfã,
por favor, dizei-me qual a hora das lágrimas,
sobretudo a das lágrimas sem nada mais que pranto
e pranto ainda e para sempre.

Nada é tão necessário ao homem como um par de lágrimas
prontas a cair no desespero.

Blas de Otero
(1916-1979)
In "Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea"
Trad. de José Bento.

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