quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Blas de Otero


NO PRINCÍPIO


Se perdi minha vida, o tempo, tudo
o que atirei, como um anel, à água,
se entre o joio perdi a minha voz
resta-me a palavra.

Se suportei a sede, a fome, tudo
o que era meu e redundou em nada,
se ceifei as sombras em silêncio,
resta-me a palavra.

se abri os lábios para ver o rosto
puro e terrível da minha pátria,
se abri os lábios até os rasgar,
resta-me a palavra.

Blas de Otero
(1916-1979)
Tradução de José Bento.

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