quarta-feira, 10 de novembro de 2010

António Ramos Rosa


SE FOSSE POSSÍVEL ESCREVER SEM NENHUMA TENSÃO


Se fosse possível escrever sem nenhuma tensão
com a oval fluência de um vagaroso ócio
poderíamos libertar essa plácida lua
presa entre os rígidos flancos do ventre

Teríamos então a lucidez do sono
e as pálpebras ordenariam o fluir das linhas
que estariam de acordo com o silêncio dos montes
e com a voluptuosa lentidão do mar

No vagar de lúcidas surpresas
a palavra teria a vaga monotonia
de uma nuvem que nada mais dissesse
do que a clara indolência do dia


António Ramos Rosa
in "As Palavras" 2001.

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