domingo, 21 de novembro de 2010

Adolfo Casais Monteiro


ACTO DE CONTRIÇÃO


Pelo que não fiz, perdão!
Pelo tempo que vi, parado,
correr chamando por mim,
pelos enganos que talvez
poupando me empobreceram,
pelas esperanças que não tive
e os sonhos que somente
sonhando julguei viver,
pelos olhares amortalhados
na cinza de sóis que apaguei
com riscos de quem já sabe,
por todos os desvarios
que nem cheguei a conceber,
pelos risos, pelas lágrimas,
pelos beijos e mais coisas,
que sem dó de mim malogrei


— por tudo, vida, perdão!

Adolfo Casais Monteiro
(1908-1972)

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