sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DESAPARECIDO

Sempre que leio nos jornais:
"De casa de seus pais desapar'ceu..."
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.

Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.

Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto de arrependimento.

Eu, que pudesse, enfim, ser meu
- Livre o instinto, em vez de coagido.
"De casa de seus pais desapar'ceu..."
Eu, o feliz desapar'cido!

Carlos Queirós
(1907-1949)
In "Desaparecido,1935"

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