sexta-feira, 2 de novembro de 2012

 REQUIESCAT
 
 
 Direi, pela noite, não ódio que tivesse 
Nem detestar vida corpórea e ninhos de manha, 
Mas meu alto cansaço, a tristeza de lá 
Onde se sente o aqui traído, a falsa entranha. 

Direi - não "fora!" ao mundo que me cinge 
(Outro onde o sei e como chegaria?), 
Mas dos anos de ver, pensar durando 
Retiro uma moeda de nada, 
Fruto do meu suor, e pago o pão que se me deve, 
Compro o silêncio que se me deve 
Por ter cumprido a palavra, 
Trabalhado nas palavras, 
E por elas merecido a terra leve.
 
Vitorino Nemésio
(1901-1978)
In "Limite de Idade"
(15 de Junho de 1971) 

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