segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fernando Assis Pacheco


HÁ UM VENENO EM MIM...



Há um veneno em mim que me envenena,
um rio que não corre, um arrepio,
há um silêncio aflito quando os ombros
se cobrem de suor pesado e frio.


Há um pavor colado na garganta,
e tiros junto à noite, e o desafio
(algures na escuridão) de alguma coisa
calando o fraco apelo que eu envio.


Há um papa que morre enquanto escrevo
estas linhas de angústia e solidão,
há o fogo da Breda, os olhos gastos.


Há a mulher que espera confiada
um pálido vazio aerograma;
e há meu coração posto de rastos.

Fernando Assis Pacheco
(1937-1995)
In "Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial"

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