segunda-feira, 7 de março de 2011

Eugénio de Andrade


TU ÉS A ESPERANÇA...


Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de Setembro,
quando a luz é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.

Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.

Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundos, como quem bebe a madrugada.

Eugénio de Andrade
(1923-2oo5)
in "As Mãos e os Frutos"

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