terça-feira, 11 de maio de 2010

Mahmud Darwish (Palestina)


Só me resta
perder-me pela tua sombra,que é a minha.
só me resta
habitara tua voz,que é a minha.

afastei-me da cruz estendida
como claridade em horizonte que não se inclina
até ao mais minúsculo monte que a vista alcança
mas não achei minha ferida, minha liberdade.

porque não sei onde moras
não encontro o caminho,
e porque meu dorso não se apoia em ti com pregos
inclinei-me tanto
como teus céus fazem
a quem espreita de escotilhas de avião

devolve-me os pedaços do meu nome
para que possa convocar as fibras das árvores
devolve-me as letras do meu rosto
para que possa chamar as tempestades próximas
devolve-me as razões do meu prazer
para possa invocar esse regresso sem razão

porque minha voz está seca como pau de bandeira
e a mão vazia como o hino nacional
porque a minha sombra é ampla como se fora uma festa
e os traços do meu rosto se passeiam de ambulância,
porque eu não sou mais do que isto:
o cidadão de um reino que não nasceu ainda.

Mahmud Darwish
Tradução de Adalberto Alves
"in Rosa do Mundo 2001 poemas para o futuro"

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