domingo, 19 de abril de 2009

O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

1 comentário:

  1. Tantos!!!
    Mais recente, aki fica mais um:

    Meu amor, meu amor

    Meu amor meu amor
    meu corpo em movimento
    minha voz à procura
    do seu próprio lamento.

    Meu limão de amargura meu punhal a escrever
    nós parámos o tempo não sabemos morrer
    e nascemos nascemos
    do nosso entristecer.

    Meu amor meu amor
    meu nó e sofrimento
    minha mó de ternura
    minha nau de tormento

    este mar não tem cura este céu não tem ar
    nós parámos o vento não sabemos nadar
    e morremos morremos
    devagar devagar.

    José Carlos Ary dos Santos
    11/10/99

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