quarta-feira, 29 de abril de 2009

Poema

LIBERA ME


Livra-me,Senhor,
De tudo o que for
Vazio de amor.

Que nunca me espere
Quem bem me não quer
(Homem ou mulher).

Livrai-me também
De quem me detém
E graça não tem,

E mais de quem não
Possui nem um grão
De imaginação.


(Carlos Queirós 1907-1949).

Por favor NÃO MATEM A COTOVIA

Por favor Não matem a cotovia é um dos romances mais lidos de sempre. continua hoje a ter novas edições e pessoas,em todo o Mundo, continuam a ler este livro sempre actual. No finais dos anos sessenta eu já era um leitor compulsivo... andava a ler ,nesses dias, as obras de John Steinbeck...quando me chegou às mãos este arrepiante e inesquecível romance... Tudo isto porque ,ontem 28/4/2009, a autora do livro chegou aos 83 anos (Nasceu em Monroeville ,Alabama, em 28 de Abril de 1926. NELLE HARPER LEE ,a escritora de quem falo foi prémio Politzer em 1961. O livro conta a história descrita por Atticus Finch um advogado viúvo de Mayeons, uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos. A história de um negro,injustamente, acusado da violação de uma jovem branca. É um livro para ler ,ou reler, que ainda hoje me marca. Não deixem de ler que val a pena.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Recanto Amarelo ( Ribeira do Fárrio )

A Poesia de Egito Gonçalves.

Com Palavras



Com palavras me ergo em cada dia!

Com palavras lavo, nas manhãs, o rosto

e saio para a rua.

Com palavras - inaudíveis - grito

para rasgar os risos que nos cercam.



Ah!, de palavras estamos todos cheios.

Possuímos arquivos, sabemo-las de cor

em quatro ou cinco línguas.

Tomamo-las à noite em comprimidos

para dormir o cansaço.



As palavras embrulham-se na língua.

As mais puras transformam-se, violáceas,

roxas de silêncio. De que servem

asfixiadas em saliva, prisioneiras?



Possuímos, das palavras, as mais belas;

as que seivam o amor, a liberdade...

Engulo-as perguntando-me se um dia

as poderei navegar; se alguma vez

dilatarei o pulmão que as encerra.



Atravessa-nos um rio de palavras:

Com elas eu me deito, me levanto,

e faltam-me palavras para contar...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Fel de Cão em Abril de 1974.

Poema
Liberdade

— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga, in 'Diário XII'
CARREIRISMO
.
Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do senhor Esteves da mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chofér fardado.
Era Director Geral das Polícias. Seu pai teve o enfarte.
.
[Mário-Henrique Leiria, de Contos do Gin-Tonic, 1973]

A VERRUGA-Mário Henrique Leiria.

Estava eu sentado lá em casa, quando ouvi a minha tia dizer «uff!».
Suspeitei logo que havia coisa. Fui ver. Tinha-lhe nascido uma verruga na orelha. Não me pareceu normal.
Procurei imediatamente o meu tio, que é brigadeiro.
-Vamos falar com o ministro - disse o meu tio.
Fomos.
O ministro, em princípio, não quis acreditar. Não podia ser, aquilo não era normal. Claro que não era normal mas eu tinha visto, e foi o que lhe disse.
-Nesse caso, o melhor será fazer como se não soubéssemos de nada - propôs o ministro. - O senhor já pensou o que isto pode causar? - Continuou, ansioso. - Começam por aí a inquirir, a verruga complica-se, os anarquistas, sempre prontos para a insídia, aproveitam o momento, a greve surge, as coisas atrapalham-se, intervenção das Potências, a guerra, que sei eu? Não, não digamos a ninguém. Guardemos segredo, o Estado o compensará.
Olhei para o meu tio, brigadeiro como já tive oportunidade de fazer notar, e vi que realmente o caso parecia grave. No entanto, duvidando um pouco, inquiri ao ministro:
-A coisa é assim tão importante, Excelência?
- Mais que isso, meu amigo, mais que isso. A pátria está em tremendo perigo.
Senti que era a hora da decisão.
- Se a pátria periga, não desejo a mínima recompensa. Comigo é assim. Pela pátria, tudo. Calarei.
Calámos
Dias depois a minha tia recebia uma carta escrita pelo próprio Imperador. Agradecendo. Louvando.
A carta ainda lá está. A verruga também.
Quanto a mim, continuo sentado lá em casa.
Calado."

Mário Henrique Leiria, in Contos do Gin-Tónico

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Poema

Sophia de Mello Breyner Andresen

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Poema
Amigo

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um gesto de Amor.

José Gomes Ferreira

José Gomes Ferreira

Cala-te ...

Cala-te, voz que duvida
e me adormece
a dizer-me que a vida
nunca vale o sonho que se esquece.

Cala-te, voz que assevera
e insinua
que a primavera
a pintar-se de lua
nos telhados,
só é bela
quando se inventa
de olhos fechados
nas noites de chuva e de tormenta.

Cala-te, sedução
desta voz que me diz
que as flores são imaginação
sem raiz.

Cala-te, voz maldita
que me grita
que o sol, a luz e o vento
são apenas o meu pensamento
enlouquecido….

(E sem a minha sombra
o chão tem lá sentido!)

Mas canta tu, voz desesperada
que me excede.
E ilumina o Nada
Com a minha sede.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Fernando Lopes Graça-ACORDAI-

A Música de Cuba com Ibrahin Ferrer.

A Flor.

Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. a criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não está ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas.Umas numa direcção,outras noutras;umas mais carregadas,outras mais leves;umas mais fáceis,outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas:Uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo,a palavra flor andou por dentro da criança, à procura das linhas com que faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas,ou todas.Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares,mas,são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!


Almada Negreiros.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cantiga dos Ais de Armindo Mendes de Carvalho dito por Mário Viegas.

Poema
Cantiga do Ódio

O amor de guardar ódios
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?

Carlos de Oliveira, in 'Mãe Pobre'

domingo, 19 de abril de 2009

O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda
Poema
Pátria

A Pátria não é apenas
Um corpo de bailador.
Não são duas mãos morenas
Nem mesmo um beijo de amor
Mais do que os livros que lemos,
Mais que os amigos que temos,
Mais até que a mocidade,
A Pátria, realidade,
Vive em nós, porque vivemos.

Pedro Homem de Mello, in "Eu Hei-de Voltar um Dia"
Poema
Solidão

Que venham todos os pobres da Terra
os ofendidos e humilhados
os torturados
os loucos:
meu abraço é cada vez mais largo
envolve-os a todos!

Ó minha vontade, ó meu desejo
— os pobres e os humilhados
todos
se quedaram de espanto!...

(A luz do Sol beija e fecunda
mas os místicos andaram pelos séculos
construindo noites
geladas solidões.)

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

Cantar deEmigração de Rosalia de Castro/Adriano Correia de Oliveira.

Poema.

CANTILENA




Cortaram as asas

ao rouxinol !

Rouxinol sem asas

não pode voar.



II

Quebraram-te o bico,

rouxinol !

Rouxinol sem bico

não pode cantar.



III

Que ao menos a Noite

ninguém, rouxinol !

ta queira roubar.

Rouxinol sem Noite

não pode viver...



Sebastião da Gama

Poema.

Poema em linha recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

Poema.

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

Casa Museu António Machado -Segovia 06/10/2007





Foto de Maria Helena Gama Marques.

Algures na Cidade de Madrid a 05/10/2007




Foto de "FEL DE CÃO"

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Poesia.

AMIZADE



De mais ninguém,se não de ti,preciso:
Do teu sereno olhar,do teu sorriso,
Da tua mão pousada no meu ombro.
Ouvir-te murmurar:-«Espera e confia!»
E sentir converter-se em harmonia,
O que era,dantes,confusão e assombro.


(Carlos Queirós 1907-1949)

domingo, 12 de abril de 2009

É como a Deolinda canta: FON FON FON



E o resto são cantigas....

Soeiro Pereira Gomes


Soeiro Pereira Gomes (14/04/1909-05/12/1949) faria 100 anos no próximo dia 14 de Abril.
Soeiro Pereira Gomes "Homem de um só parecer,de um só rosto e de uma só fé"foi um dos maiores nomes do NEO-REALISMO LITERÁRIO em Portugal.
Militante comunista (a sede nacional do P.C.P.em Lisboa tem o nome de "Edifício Soeiro Pereira Gomes" e está situado na rua com o mesmo nome.
A sua luta foi sempre feita contra as desigualdades e as injustiças e na sua denuncia.
A sua principal obra "ESTEIROS" dedicada "Aos filhos dos homens que nunca foram meninos"foi publicada em Novembro de 1941. Outra obra importante "ENGRENAGEM" dedicada"Para os trabalhadores sem trabalho-rodas paradas de uma engrenagem caduca"foi deixada inacabada (Soeiro deixou escrito que a iria rever) foi escrita em 1944 e publicada em 1951 (Já depois da morte do escritor).
Nascido em Gestaçô(distrito do Porto) viveu, entre os 6 e os 10 anos, em Espinho passou por África e foi para Alhandra onde viveu,trabalhou e muito lutou.
A 1ª edição de "ESTEIROS" a sua obra prima é ilustrada por Álvaro Cunhal.
Como militante comunista é obrigado a passar à clandestinidade e vive em condições de grandes dificuldades. Contraiu tuberculose e como se encontra na clandestinidade não tem acesso a tratamentos e medicamentos e morre em circunstâncias dramáticas.
É sepultado em Espinho e na sua sepultura consta o seguinte epitáfio "A TUA LUTA FOI DÁVIDA TOTAL"

sábado, 11 de abril de 2009

LE DÉSERTEUR de BORIS VIAN


>
LINDO,LINDO não deixe de ouvir.
(Boris Vian 1920-1959)
-Canção de 1954 contra a Guerra da Argélia-

sexta-feira, 10 de abril de 2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

No arame


Foto dum estendal da roupa ....lençol a secar ao sol....

terça-feira, 7 de abril de 2009

CASMURROS


Em 2003 ,era Pedro Santana Lopes presidente da Câmara Municipal de Lisboa, enviou uma carta a Machado de Assis agradecendo um livro dele que chegara ao gabinete do Sr. Presidente. Homem educado e agradecido.... O problema é que Machado de Assis , um dos maiores escritores Brasileiros de sempre, tinha morrido em 1908. ... Machado de Assis (1839-1908) deu até uma entrevista a agradecer....e até aproveitou para fazer as pazes com o nosso Eça de Queirós com quem tinha morrido incompatibilizado. Mas o quero recomendar é a leitura do genial livro "DOM CASMURRO" escrito em 1900 e de que saiu, em Março de 2009, uma nova edição publicada pela "Dom Quixote". Leiam que vale a pena... Mandem o Santana para... Foi quando ele era Secretário de Estado da Cultura que o Lara vetou o Evangelho do Saramago. E anda por aí como as pessoas... Devia ler o Manifesto Anti- Dantas, de Almada Negreiros, mas onde está escrito Dantas ler Santana.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Figueira 06/04/2009


Pôr do sol ...com o sol escondido.

Figueira 06/04/2009


Ao fim da tarde.

Uma Raridade


Por excesso de trabalho...e muita fadiga..Feldecao dormindo de pé

Soneto de Amor

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas numa língua...,-unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois...Abre os teus olhos, minha Amada!
Enterra-os nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

José Régio, in 'Eros de Passagem'
( Poesia erótica contemporânea, Selecção de Eugénio de Andrade.)

Da condição Humana

Todos sofremos.
O mesmo ferro oculto
Nos rasga e nos estilhaça a carne exposta
O mesmo sol nos queima os olhos vivos.
Em todos dorme
A humanidade que nos foi imposta.
Onde nos encontramos, divergimos.
É por sermos iguais que nos esquecemos
Que foi do mesmo sangue,
Que foi do mesmo ventre que surgimos

Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'
(1937-1984)

FIM

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!


Que o meu caixão vá sobre um burro.
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro.


(Mário de Sá Carneiro -1890-1916-)

domingo, 5 de abril de 2009

A "Pomada"


Por mão amiga chegou cá a casa uma garrafa dum tinto de excepção. Produzido e engarrafado (meticulosamente e religiosamente ) desde há 13 anos por um grupo de Alentejanos (todos eles de boa cepa) este M.C.P. (Malta do Colhão Preto) é um néctar precioso que seduz qualquer um que respeite a Baco e a Dionísio..... Cá por mim já enturnei goela abaixo Barca Velha, Pera Manca, Incógnito....e outras pomadas que não têm "TOMATES" para este. Muita saúde e longa vida aos produtores.

sábado, 4 de abril de 2009

Figueira da Fóz (4de Abril de 2009 fim de tarde.)

Mais quadras de António Aleixo


Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que pareço.


Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Homen


Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
nem cinzéis,
nem acordes,
nem pincéis,
são gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
desde mais infinito a menos infinito


(António Gedeão 1906-1997).