segunda-feira, 9 de novembro de 2015

 HÁ UMA ROSEIRA DE SOMBRA QUE PERFUMA

Há uma roseira de sombra que perfuma
somente o sonho, e que jamais é
sonho ela própria, mas sombra realidade.
Não faz sonhar acordado nem sonhar
em sonhos, e seus ramos têm rosas
de condensada sombra em que um orvalho
vesperal acha abrigo e tanta vida
concede ao fundo de seu aroma.
Cobre a roseira, com umbrosos ramos
de sombra, as moradas que constrói
ou habita o sonho, e os jardins
por onde passeia a nostalgia
e o desejo, os montes e os vales
- e é só roseira cujas folhas contasses -
abertos ou fechados ao teu sonho.
E o aroma entre sombra de suas rosas
aroma sempre a sombra dessas pétalas.

Ángel Crespo
(1925-1995)
Trad. de José Bento

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