segunda-feira, 9 de novembro de 2015

 QUE CORPOS LEVES, SUBTIS.

Que corpos leves, subtis,
há, sem cor,
tão vagos como as sombras,
que não podem beijar-se
a não ser pondo os lábios
no ar, contra algo
que passa e se assemelha!

Que sombras tão morenas
existem, e tão duras
que seu frio, escuro mármore
não se nos rende nunca
de paixão, entre os braços!

E que faina, ir e vir
com o amor, velozmente,
dos corpos para as sombras,
do impossível aos lábios,
sem parar, sem saber nunca
se é alma de carne ou sombra
de corpo o que beijamos,
se é alguma coisa! A tremer
de acarinhar o nada!


Pedro Salinas
(1891-1951)
Trad. de José Bento

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