segunda-feira, 6 de outubro de 2014

 HOJE DEITEI-ME AO LADO DA MINHA SOLIDÃO.



Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do meu próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das palavras maduras
ou o medo de perder quem me perdia

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até sentir
o meu sangue jorrar nas próprias fontes.


Eugénio de Andrade
(1923-2005)
In "As Mãos e os Frutos"

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