sábado, 25 de outubro de 2014

O POETA OPERÁRIO


Gritam ao poeta da revolução:
«Seria bom ver-te a trabalhar num torno.
Versos o que são?
Simples adorno!
Trabalhar não é contigo, se calhar.»
Mas, para nós,
trabalhar
é a ocupação favorita.
Eu também sou uma fábrica
e lá por não ter chaminés,
talvez
seja muito mais difícil.
Bem sei
que não gostas de frases vãs.
Cortar carvalhos, isso sim, é trabalho.
E nós
não seremos também derrubadores de árvores?
As cabeças das pessoas tratamos como carvalhos.
Certamente
pescar é uma coisa respeitável,
lançar a rede
e apanhar esturjões!
Mas o trabalho do poeta é mais respeitável:
não pescamos peixe mas sim gente viva.
Trabalhar na forja é trabalho violento,
o ferro fundido bater e temperar.
Mas quem é
que nos pode acusar de mandriar?
Com a goiva da linguagem polimos as mentes.
Quem vale mais - o poeta
ou o técnico
que conduz as pessoas para os bens materiais?
Ambos.
Os corações são iguais aos motores,
a alma igual a um motor complicado.
Somos iguais,
camaradas na massa trabalhadora,
Proletários do corpo e da alma.
Só juntos
remoçaremos o universo
e com marchas poderemos vencer.
Das tempestades verbais defenderemos o povo.
Ao trabalho!
O trabalho é vivo e novo.


Os oradores fúteis, sem dó
ao moinho!
À fresadora!
Que a água dos discursos dê a volta à mó!

Vladimir Maiakovski
(1893-1930)
(Trad. de Manuel de Seabra)

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