quarta-feira, 3 de outubro de 2012

COMO SE NUNCA:


É algo mais que o dia o que morre esta tarde?
O vento,
            - que leva ele,
que aromas arrebata?
Desatadas de súbito as folhas das árvores
cegas vão pelo céu.
Pássaros altos atravessam, adiantam-se
à luz que os guia.
            Sombria claridade
será já em outro sítio
- só por um instante –
madrugada.

Com bandeiras de fumo alguém me avisa:

            - Olha bem tudo isto;
isto que passa
não voltará jamais
e é como se não tivesse nunca sido

efémera matéria de tua vida.

Ángel González
(1925-2008) 
In "Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea"
Trad. de José Bento.

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