INCÊNDIO
Deixai-me apertar, nas mãos, as mãos de todos os homens
E vibrar, na alma, a alma de todos os homens
E cantar, na boca, a boca de todos os homens.
Impossível ficar aqui, no silêncio, - voz sozinha e dispersa.
Impossível andar errante ao sabor duma fantasia inútil
Feita de sonhos estéreis e cometimentos inglórios.
Os meus lábios abrem-se para mais um desejo de sacrifício,
As minhas mãos estendem-se para mais um corpo chagado,
Os meus soluços traduzem-se em mais um cântico de esperança...
...E a língua salga porque anda cheia de mar
E o coração dá-se porque ama e sofre...
- Vida!: Sê toda minha!
Amanhã saberás que não foste a figueira brava tocada de esterilidade.
Vasco Miranda
(1922-1976)
In "Luz na Sombra"
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