COMPATRIOTA
Que todos os meus anseios de poeta
possam cair no teu regaço,
velha lutadora, velha analfabeta
que não sabes dos versos que te faço!
Vejo-te de joelhos,
de joelhos e de mãos postas,
de joelhos e de mãos postas num velho esfregão
lavando, lavando casas...
A tua cabeça branca é uma acusação
- passa um poeta - e a acusação tem asas.
Velha que conheceste algumas gerações
e devias ser tratada como os doentes e as crianças
- atira o teu esfregão contra os nossos corações
e grita nos meus versos agudos como lanças!
Sidónio Muralha
(1920-1982)
In"Companheira dos Homens"
Edição de 1950.
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