sábado, 26 de fevereiro de 2011

António Manuel Couto Viana


O AVESTRUZ LÍRICO


Avestruz:
O sarcasmo de duas asas breves
(Ânsia frustrada de espaço e luz,
De coisas frágeis, líricas, leves);

Patas afeitas ao chão;
Voar? Até onde o pescoço dá.
Bicho sem classificação:
Nem cá, nem lá.

Isto sou (Dói-me a ironia
– Pudor nem eu sei de quê).
Daí a absurda fantasia
De me esconder na poesia,
Por crer que ninguém a lê.

António Manuel Couto Viana
(1923-2010)

1 comentário:

  1. Isto de se "esconder na poesia,
    Por crer que ninguém a lê" faz-me lembrar alguém... Mas pode ter a certeza que, com a qualidade poética que abunda neste blogue certamente muita gente o lerá... No entanto, por muito que gostemos ou nos identifiquemos com determinado poema, é sempre mais difícil comentar frases ou poemas inteligentes e pertinentes do que frases feitas... Este é um blogue para virmos beber um pouco de sabedoria e inspirar-nos... sabe muito bem lê-lo... :)

    Carla Pereira

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