quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Octávio Paz


À MARGEM


TUDO O QUE BRILHA NA NOITE,
COLARES, OLHOS, ASTROS,
SERPENTINAS DE FOGOS DE CORES,
BRILHA EM TEUS BRAÇOS DE RIO QUE SE CURVA,
EM TEU PESCOÇO DE DIA QUE DESPERTA.

A FOGUEIRA QUE ACENDEM NA FLORESTA,
O FAROL DE PESCOÇO DE GIRAFA,
O OLHO, GIRASSOL DA INSÓNIA,
CANSARAM-SE DE ESPERAR E PERSCRUTAR.

APAGA-TE,
PARA BRILHAR NÃO HÁ COMO OS OLHOS QUE NOS VÊEM:
CONTEMPLA-TE EM MIM QUE TE CONTEMPLO.
DORME,
VELUDO DE BOSQUE,
MUSGO ONDE RECLINO A CABEÇA.

A NOITE COM ONDAS AZUIS VAI APAGANDO ESTAS PALAVRAS,
ESCRITAS COM MÃO VOLÚVEL NA PALMA DO SONHO.

Octávio Paz (1914-1998)
Tradução de Luís Pignatelli
1n "Os Poemas da Minha Vida de Urbano Tavares Rodrigues.

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