sexta-feira, 19 de março de 2010

Fernanda Botelho



Mansidão

Quando me chamam, vou logo.
E não reajo. Disfarço.
E a cada ultraje, renasço
com as artérias em fogo.

Não falo o meu espanto.
Quando recuso, não digo.
(Conservo as vozes comigo
a elaborar o meu canto.)

E com maneiras discretas,
vou criando o movimento
que hei-de entregar, a seu tempo,
às minhas asas quietas.

Fernanda Botelho
Do livro "Távola Redonda" fasc.14 (1952)

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