sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sebastião da Gama


Soneto do Tempo Perdido


Passo às vezes os dias distraído
de mim; vou ao café, vou conversar,
e não paro um segundo a escutar
o que terá cá dentro acontecido.

Vivo a vida dos outros, esquecido
de que o meu Fado é mais do que passar:
ah! bem sei eu que vim para contar
a minha alma plena de sentido!

Muito me dói o que fugi então!...
- Pra mim próprio me pus costas-voltadas,
e, tudo que em mim foi, foi tudo em vão.

Quanta coisa foi quase pequenina
(e surgira pra ser das celebradas),
só por eu ter burlado a minha Sina!

Sebastião da Gama, Último Livro (1945)

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