terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Poema.


MELOPEIA PARA UM FUTURO TALVEZ SIM


Um dia destes abrir-se-ão as portas
e entraremos todos na cidade
Um dia destes teremos um domingo
e haverá água límpida e potável

Um dia destes contaremos contos
de terrores antigos de perseguições
e poremos os verbos no passado
felizes de escaparmos ao massacre

Um dia destes o silêncio quebrará
para sair uma canção de amor
Um dia destes a noite abrir-se-á
e tu serás o rosto descoberto

Um dia destes poremos no zoológico
os últimos hipopótamos da cidade
e cortaremos o resto dos tentáculos
que nos mantêm à mercê do grande polvo

Um dia destes as palavras serão públicas
e não escreverão penas de morte
não servirão para mentir atraiçoar
para ferir os amigos ou matá-los

Um dia destes construiremos um museu
com os retratos do medo e da tortura
do diabo do crime da miséria
na galeria dos antepassados

Um dia destes teremos tempo de juntar
os bocados de nós próprios e colá-los
Um dia destes não seremos obrigados
a sempre recusar de mão fechada

Um dia destes tu serás tangível
e os meus dedos poderão desapertar-te
Um dia destes os quatro cavaleiros
estarão na cadeia sem cavalos

Um dia destes não será com juras
clandestinas que a esperança se fará
Um dia destes a fome não poderá
comprar de novo lâminas de barba

Um dia destes abrir-se-ão as portas
e dançaremos nas ruas da cidade
Um dia destes beberemos todos
a cerveja da alegria e da amizade

Um dia destes secarão as lágrimas
e teremos cartas vindas da Europa
Um dia destes a vida será fértil
e o dia seguinte estará sempre aberto

Meus amigos meu amor
Um dia destes...



Egito Gonçalves

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