quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sonho


Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo, é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero, nem tenho, nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e contêm.
Dorme, inscônscio de alheios corações,
Coração de ninguém!

6/1/1923
Fernando Pessoa, in Poesia do Eu,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2006

Sem comentários:

Enviar um comentário