Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo, é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero, nem tenho, nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e contêm.
Dorme, inscônscio de alheios corações,
Coração de ninguém!
6/1/1923
Fernando Pessoa, in Poesia do Eu,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2006
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