quarta-feira, 2 de setembro de 2015

CONDIÇÃO


A onda vem, lambe o areal e parte;
A mágoa vem, morde o meu corpo e fica;
A mágoa ateima, ateima, e quer ser arte,
A onda envergonhou-se de ser bica.

E nem a areia seca se revolta,
Nem o meu corpo pode protestar;
A onda anda no mar, à solta,
E a mágoa já tem casa onde morar.

Forças sem coração e sem governo
Jogam no pano que lhes apetece;
Pobre de quem padece
O seu capricho eterno...


Miguel Torga
(1907-1995)

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