domingo, 16 de novembro de 2014

O DURO PÃO.


A insónia beber-me até à gota última.
Debandar pelos campos, de par em par os braços.
Conhecer de que angústia me chegam meus poemas.
Arrancar-me o vestido com mágoa mas sem lágrimas.
Morder o duro pão do egoísmo alheio.
Afogar-me no tumulto que por dentro me invade.
Evadir-me do teatro que me dão dia a dia.
O desdém prender em mim com um colar de geada.
Cravar agulhas rombas na minha pregadeira.
Esgarçar os instantes em que a fronte me pesa.
Lentamente afundar-me com este peso imposto.

Aguardar o momento em que rebente o fel.

María Victoria Atencia
(N: 1931)
(Trad. de José Bento)


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