sexta-feira, 7 de março de 2014

PROPONHO A MINHA CABEÇA ATORMENTADA.

Proponho a minha cabeça atormentada
pela sede e pela sepultura. Eu queria
expelir um som de alegria;
mas soo a matéria desolada.

Justifico-me na dor. Não há nada;
não encontro nos meus ossos a cobardia.
Em meu canto inverte-se a agonia;
é um caso de luz incorporada.

Proponho a minha cabeça para se houver
necessidade de suportar um raio.
Não falo apenas por mim. Digo, juro

que a beleza é necessária. Morra
o que deve morrer; o que calo.
Não toques, Deus, meu coração impuro.

Antonio Gamoneda
In " Oração Fria"
Trad. de João Moita

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