AS PEDRAS AGONIZAM NAS MINHAS MÃOS.
Já nada resiste
às poéticas implicações
Que me obrigam a dar vida
Aos objectos mais imprevistos
Que subitamente impressionados
Me cinturam
E me subjugam
E me libertam
As pedras agonizam
Nas minhas mãos
As pedras agonizam
Nas minhas mãos
As pedras agonizam
Nas minhas mãos
Porque nelas impunemente
Nelas apenas pontificava
Este silêncio inaudível
Mas palpável e dissolvente
Este silêncio amaldiçoado
Gerações e gerações
De poetas e guerrilheiros
Que me partiram dolorosamente
Na lucidez plena
Deste império de solicitações
Oh as pedras agonizam
Nas minhas mãos
Para ressurgirem
Uma a uma reanimadas
No fluxo dialéctico
Da minha própria inspiração
E assim as domino e comprometo
Assim as devolvo comungadas
À mais poética intimidade
E as pedras oh camaradas
As pedras então se reacendem
Nas mãos de qualquer um.
Rui Nogar
(1935-1994)
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