terça-feira, 5 de outubro de 2010

António de Sousa


MAR INCERTO

Que triste o som acorda à minha voz!
Como é pálida a luz do meu espelho
e a desse rio azul que não tem foz:
o tempo, em que me vou fazendo velho.

Dias loucos da infância, onde estais vós?
E a alegria – esse cântico vermelho
do sangue virgem que não tem avós?
Como se chama a sombra em que ajoelho?

Arfa, cansado, no meu peito, um mar:
o mar remoto da remota Ilha
onde sereias cantam ao luar.

A esteira dos navios, as gaivotas
gritam no céu, e o céu, lânguido, brilha
sem ecos de vitórias ou derrotas.

António de Sousa,1898-1981, em "Rosa do Mundo
2001 Poemas para o Futuro"

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