domingo, 27 de junho de 2010

António Machado


DE NOITE,QUANDO DORMIA.

De noite, quando dormia
sonhei, bendita ilusão
que uma fonte fluía
dentro do meu coração.
Por que ribeira escondida,
água, vens tu até mim,
manancial de nova vida
onde jamais eu bebi?

De noite, quando dormia
sonhei, bendita ilusão!
que uma colmeia vivia
dentro do meu coração;
e as douradas abelhas
iam fabricando nele,
com as amarguras velhas,
branca cera e doce mel.

De noite, quando dormia
sonhei, bendita ilusão!
que um ardente sol luzia
dentro do meu coração.
Era ardente porque dava
o calor de um rubro lar,
e sol porque alumiava,
porque fazia chorar.

De noite, quando dormia
sonhei, bendita ilusão!
que era Deus o que eu trazia
dentro do meu coração.

António Machado (1875-1939)

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